JEITO JAPONÊS DE POUPAR DINHEIRO QUE EU APRENDI NO JAPÃO

Tempo de leitura: 9 min

Escrito por Roberto Kirizawa
em 08/02/2025

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Morando por aproximadamente seis anos no Japão eu pude ver como é diferente a forma como os japoneses lidam com o dinheiro.

Foi justamente a oportunidade de enxergar a realidade através de outros olhos, de um ponto de vista diferente, que me motivou a viver por lá por um tempo.

Eu pude constatar como é diferente viver imerso em outra cultura, com outras regras sociais e outros valores.

Mesmo que algumas pessoas possam achar que o Japão é apenas um país tecnológico e moderno, a realidade é que as tradições e costumes antigos ainda têm uma forte influência no dia a dia, especialmente quando se trata de finanças pessoais.

Ainda mais quando se mora no interior do país, que foi o meu caso.

Forma de usar o dinheiro

No Japão o uso do dinheiro em espécie é muito comum.

Mesmo com toda a tecnologia disponível, os japoneses preferem carregar notas e moedas para suas compras diárias.

Isso reflete um aspecto cultural importante: a preferência por ver e sentir fisicamente o dinheiro que está sendo gasto, o que naturalmente ajuda no controle dos gastos.

É muito diferente quando você tem, por exemplo, R$ 300,00 na carteira e faz uma refeição com seu cônjuge, vendo literalmente todo seu dinheiro desaparecer na hora de pagar a conta.

Quando usamos o cartão de crédito para pagar as contas não temos a mesma sensação física de perda.

Os japoneses entendem que essa conexão tangível com o dinheiro ajuda a criar uma consciência maior sobre os gastos.

No Japão era normal andar com ¥ 30.000 (ienes) na carteira.

Isso corresponde, na cotação de hoje, cerca de R$ 1.100,00.

E olha, esse dinheiro durava muito tempo na carteira até ter que sacar novamente.

Eu sei que aqui no Brasil não temos condição e nem podemos nos dar o luxo de andar com tanto dinheiro assim na carteira.

Por isso, aqui no Brasil, uma alternativa que eu acho interessante é usar um cartão pré-pago, onde você só pode gastar o valor que depositou previamente.

Nesse caso eu uso o cartão da Wise.

Eu deposito um valor específico em reais como meu limite de gastos e tenho a tranquilidade de saber que o cartão automaticamente controla para que eu não exceda esse limite.

Além disso eu uso ele nas minhas viagens para fora do Brasil, bastando carregar em reais e converter para dólar.

Eu usei no Japão, na Argentina e nos Estados Unidos sem problema algum.

Respeito ao dinheiro

Sabe aquela famosa frase: dinheiro não aceita desaforo?

Pois é, pelo visto os japoneses entendem muito bem esse conceito.

Para eles, o dinheiro é algo que merece respeito e deve ser tratado com seriedade.

Essa mentalidade se reflete não apenas no cuidado com as cédulas e moedas, mas também na forma como planejam seus gastos e investimentos.

Pra você ter ideia os japoneses carregam o dinheiro em carteiras próprias para essa finalidade.

São carteiras maiores em que se consegue colocar as cédulas sem dobrar.

Dessa forma as cédulas de dinheiro estão sempre em perfeito estado.

No Japão não acontece de você pegar cédulas rasgadas, sujas, amassadas e até remendadas como acontece aqui no Brasil.

Eles têm um cuidado especial com o dinheiro, tratando cada nota como algo valioso que merece respeito.

Isso reflete não apenas na aparência física do dinheiro, mas também na forma como eles valorizam e gerenciam suas finanças.

Nesse ponto vermos como é a influência da cultura sobre a forma de pensar das pessoas.

Fora isso o troco sempre é dado de forma exatamente correta.

Não existe isso de arredondar o valor e dar o troca a menos.

Se você comprar algo por ¥ 9.999 (ienes) e der uma nota de ¥10.000 (ienes), você receberá como troco uma moeda de ¥ 1 (iene), que apesar de não poder comprar nada com ela será dado como se daria qualquer outro valor.

E o interessante é que mesmo não dando para comprar nada com ela eu recebia e guardava essas moedas de ¥ 1 (iene) porque se eu fizesse uma compra e desse ¥ 5.001 (ienes) eu teria que pagar para o caixa exatamente esse valor.

Só para facilitar o seu entendimento, a moeda de ¥ 1 (iene) seria como se fosse R$ 0,01 daqui do Brasil.

E dessa lição eu pude entender que com dinheiro não se brinca.

Dinheiro é dinheiro independente do valor.

Imposto

Outra coisa que eu achei muito interessante foi a forma como é cobrado o imposto sobre os produtos, no Japão.

Lá, os valores que você vê nas prateleiras é o valor apenas do produto.

O valor do imposto é acrescido posteriormente.

Por exemplo, se eu pegar um produto que custa ¥ 1.000 (ienes), no caixa eu serei cobrado pelo produto mais o imposto sobre ele que é de 10%. Assim, terei que pagar ¥ 1.100 (ienes).

Dessa forma fica muito mais clara o quanto se paga de imposto sobre os produtos que estão sendo comprados.

Diferentemente do Brasil, onde os impostos estão embutidos no valor do produto, o que não nos permite saber exatamente quanto estamos pagando em tributos.

Isso acaba mascarando a realidade tributária do país e nos impede de ter uma noção clara do peso dos impostos em nossas compras.

Essa transparência que existe no Japão ajuda as pessoas a terem mais consciência sobre a carga tributária e, consequentemente, a serem mais críticas em relação aos gastos públicos.

Fora isso, quando você compra alimentos em restaurantes e opta por levar e não comer no local o imposto baixa de 10% para 8%.

Isso faz com que muitas pessoas optem por pegar seu alimentos em konbinis (que são as lojas de conveniência) e comerem em seu carros, no próprio estacionamento do local.

É muito comum ver japoneses comprando os oniguiris (bolinhos de arroz), chá verde, lámem (macarrão instantâneo) e café nos konbinis e comendo no estacionamento na hora do almoço.

Essa é mais uma forma de conseguir reduzir o imposto sobre o alimento que eles estão consumindo.

E claro, também tem o aspecto cultural.

Esse tipo de prática é muito comum de se ver no Japão.

Então, como todo mundo faz, ninguém acha estranho.

Mas o fato é que se existe a possibilidade de economizar, nem que seja um pouco com imposto, eles aproveitam.

Cozinhar em casa

Não sei se você já assistiu algum desenho infantil japonês que retrata o dia a dia da família japonesa.

Existem vários desenhos que fazem isso, e invariavelmente ao mostrar como é a rotina da família japonesa, sempre acaba mostrando que é comum se cozinhar em casa.

Eu notei que os japoneses gostam de ir ao mercado comprar as verduras e frutas da época para cozinhar em casa.

Há vários programas de TV que ensinam cozinhar e mostram como fazer pratos saborosos com receitas simples.

Eu e minha esposa gostamos de cozinhar e lá no Japão nós cozinhávamos praticamente todos os dias.

Comprávamos os ingredientes frescos no mercado local e preparávamos tanto pratos japoneses quanto brasileiros.

Essa prática não só nos ajudava a economizar dinheiro, mas também nos permitia manter uma alimentação mais saudável e controlada.

Inclusive nós fazíamos o nosso bentô (marmita) para levar para o trabalho.

Essa também é uma prática muito comum no Japão que ajuda a economizar dinheiro e manter uma alimentação equilibrada.

Além do aspecto financeiro, preparar a própria marmita permite controlar melhor as porções e a qualidade dos ingredientes utilizados.

É uma forma inteligente de cuidar tanto do bolso quanto da saúde.

Transporte

Quando eu trabalhei em uma empresa com japoneses, percebi que eles sempre priorizam ir ao trabalho de bicicleta.

Para você ter uma ideia, um colega de trabalho que morava na cidade vizinha ia trabalhar de bicicleta todos os dias.

Havia vários outros funcionários que faziam o mesmo.

Quando não dava para ir de bicicleta a outra opção era ir de trem ou metrô, ou seja usar o transporte público.

Pouquíssimas pessoas usavam carro — apenas uma pequena minoria.

Isso demonstra uma mentalidade voltada para a economia e sustentabilidade no transporte diário.

O uso de bicicleta e transporte público não apenas reduz gastos com combustível, manutenção e estacionamento, mas também reflete uma consciência coletiva sobre questões ambientais e financeiras.

A preferência por meios de transporte mais econômicos, mesmo quando há a opção do carro, mostra como os japoneses priorizam decisões financeiras práticas em seu dia a dia, mesmo quando ocupam cargos que lhes permitiriam optar por alternativas mais caras.

A técnica do envelope

Uma das técnicas mais populares de gestão financeira no Japão é a técnica do envelope, conhecida como “Kakei Bako”.

Logo que recebem o salário, os japoneses separam o dinheiro em diferentes envelopes, cada um destinado a uma categoria específica de gastos.

Geralmente, eles dividem em categorias como:

  • Aluguel e contas fixas
  • Alimentação
  • Transporte
  • Despesas médicas
  • Emergências
  • Poupança

O importante é que eles primeiro garantem que todas as necessidades básicas e compromissos estejam cobertos, separando o dinheiro necessário em cada envelope.

Somente depois de fazer essa separação é que eles consideram o dinheiro restante para gastos extras ou lazer.

Essa técnica ajuda a manter um controle rigoroso dos gastos, pois uma vez que o dinheiro de um envelope acaba, não se deve pegar emprestado de outros envelopes.

É uma forma visual e prática de manter o orçamento sob controle e evitar gastos impulsivos ou desnecessários.

Além disso, essa técnica ajuda a criar uma disciplina financeira, pois você consegue ver claramente quanto dinheiro resta em cada categoria de gastos.

Conclusão

A forma como os japoneses lidam com dinheiro nos ensina lições valiosas sobre respeito, disciplina e planejamento financeiro.

Desde o cuidado físico com as cédulas até a organização meticulosa dos gastos, cada aspecto reflete uma cultura que valoriza e respeita o dinheiro.

As práticas que observei durante minha estadia no Japão, como a técnica do envelope, o hábito de cozinhar em casa e o uso consciente do transporte, demonstram que a economia não precisa ser algo complicado.

São pequenas ações diárias que, quando somadas, fazem uma grande diferença no orçamento.

Mais do que apenas poupar, os japoneses nos ensinam a ter uma relação saudável com o dinheiro.

Eles mostram que é possível viver bem e economizar ao mesmo tempo, sem abrir mão da qualidade de vida.

É uma mentalidade que combina simplicidade, praticidade e eficiência.

Podemos adaptar muitas dessas práticas à nossa realidade brasileira.

O importante é absorver os princípios fundamentais: respeito ao dinheiro, planejamento consciente e disciplina nos gastos.

Com essas bases, qualquer pessoa pode melhorar sua saúde financeira, independentemente de onde vive.

Inclusive se você tiver interesse em mudar sua forma de lidar com o dinheiro e conseguir ajustar suas finanças utilizando os conceitos do minimalismo para isso, considere participar da nossa Comunidade Vida Leve, tornando-se um membro do canal.

As aulas já estão sendo liberadas e poderão transformar a sua relação com o dinheiro.

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